Quando criança eu batia ponto na coordenação. Uma travessura atrás da outra. Eu falava o tempo todo. Andava pela sala o tempo todo. Enchia o saco dos professores (coitados!) O TEMPO TODO.
Desde pequena eu sabia que aquele comportamento era ruim. Eu lembro que na quarta série eu saía de casa determinada a ficar quieta o dia inteiro. Acordava e pensava: "Hoje vou sentar no canto, segurar a boca, não vou rir, nem falar alto. Só vou prestar atenção na aula." Se algum dia consegui ter êxito? Acho que os TDAHs sabem a resposta.
Como sempre fui muito hiperativa, acabei fazendo amigos mais facilmente, já que eu era exatamente o oposto das crianças tímidas e quietas. Eu precisava falar, conversar com as pessoas, soltar uma energia que parecia não ter fim. O problema é que comecei a ter problemas na voz, por sempre falar muito, o tempo todo. Hoje tenho nódulo nas pregas (não se fala mais cordas) vocais. Tive que sair do teatro (algo maravilhoso para um TDAH se soltar), e tenho o risco de perder a voz (algo totalmente assustador para um hiperativo).
Eu li que a hiperatividade vai diminuindo com o tempo. E acho que pode ser verdade. Pois não fico "quicando" por aí como antes. Ainda sou muito maluca (mesmo), a ponto de pessoas na rua se assustarem com a minha estranha animação, e vontade de me mexer. Sério! Tem vezes que dou a louca, e começo a dançar (onde quer que eu esteja) para extravasar algo que precisa sair - ficar quieta para mim é uma das piores torturas do mundo (meus amigos que o digam).
Acho que algo que ajuda com a hiperatividade é a prática de esportes, já que deixa o corpo cansado, o que inviabiliza a vida 100% saltitante e falante. Mas, mesmo assim, você ainda consegue diferenciar um hiperativo de um não-hiperativo depois de um exercício cansativo. É uma marca, algo que afeta sua personalidade, seu modo de falar, agir e até de pensar. Eu sei bem disso, e todos que têm também sabem.