terça-feira, 22 de março de 2011

Pelo amor de Deus, dá para você ficar quieta?

"Pelo amor de Deus, dá para você ficar quieta?" - Implorou, com cara de poucos amigos uma professora, com a face avermelhada, olhando diretamente nos meus olhos. Estava claro que não era a primeira vez que ela havia pedido aquilo. Não vou dizer em que época foi, porque não lembro. Também não faz diferença, já que esta frase me assombrou por toda a minha vida, só mudando de estrutura, mas sempre com a mesma finalidade.


Quando criança eu batia ponto na coordenação. Uma travessura atrás da outra. Eu falava o tempo todo. Andava pela sala o tempo todo. Enchia o saco dos professores (coitados!) O TEMPO TODO.
Desde pequena eu sabia que aquele comportamento era ruim. Eu lembro que na quarta série eu saía de casa determinada a ficar quieta o dia inteiro. Acordava e pensava: "Hoje vou sentar no canto, segurar a boca, não vou rir, nem falar alto. Só vou prestar atenção na aula." Se algum dia consegui ter êxito? Acho que os TDAHs sabem a resposta.


Como sempre fui muito hiperativa, acabei fazendo amigos mais facilmente, já que eu era exatamente o oposto das crianças tímidas e quietas. Eu precisava falar, conversar com as pessoas, soltar uma energia que parecia não ter fim. O problema é que comecei a ter problemas na voz, por sempre falar muito, o tempo todo. Hoje tenho nódulo nas pregas (não se fala mais cordas) vocais. Tive que sair do teatro (algo maravilhoso para um TDAH se soltar), e tenho o risco de perder a voz (algo totalmente assustador para um hiperativo).


Eu li que a hiperatividade vai diminuindo com o tempo. E acho que pode ser verdade. Pois não fico "quicando" por aí como antes. Ainda sou muito maluca (mesmo), a ponto de pessoas na rua se assustarem com a minha estranha animação, e vontade de me mexer. Sério! Tem vezes que dou a louca, e começo a dançar (onde quer que eu esteja) para extravasar algo que precisa sair - ficar quieta para mim é uma das piores torturas do mundo (meus amigos que o digam). 

Acho que algo que ajuda com a hiperatividade é a prática de esportes, já que deixa o corpo cansado, o que inviabiliza a vida 100% saltitante e falante. Mas, mesmo assim, você ainda consegue diferenciar um hiperativo de um não-hiperativo depois de um  exercício cansativo. É uma marca, algo que afeta sua personalidade, seu modo de falar, agir e até de pensar. Eu sei bem disso, e todos que têm também sabem.

2 comentários:

  1. Parabens pela iniciativa, me identifico demais nos textos.
    o pior de tudo sao as pessoas que nao acreditam no Déficit. que te tratam como se fosse so uma besteira que tu ta inventando.
    descobri ser tdah em epoca de vestibular tambem. nao conseguia ler uma questao inteira sem olhas algum inseto na janela haha.

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  2. Ah, que bom! Geralmente quem tem o transtorno, tem os mesmos sentimentos, frustrações e problemas... E acho mt legal o pessoal se conhecer, para se dar dicas e tal, até porque eu mesma conheço poucos com o TDAH. =)

    beijones

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